Discursos políticos aliviam previsibilidade do Oscar 2024
Vencedores aproveitam o palco e a exposição internacional do evento para dar seu recado sobre guerra e feminismo ao mundo.
(brpress) – Oscar é sempre Oscar: piadas sem graça, palminhas, sorrisinhos amarelos das celebridades e muito brilho em vestidos geralmente de mau gosto. Sim, essa é opinião da brpress. E quem quiser que dê a sua, já que este é um país teoricamente livre. Essa premissa funciona também na premiação do Oscar e não foi diferente em 2024. Vencedores aproveitaram o palco e a exposição internacional do evento para dar seu recado ao mundo.
Este ano, os discursos políticos serviram para aliviar a chatura de uma premiação previsível. A começar pelo queridinho da noite, Oppenheimer, que levou sete das 13 estatuetas às quais havia sido indicado. O filme sobre parte da vida e dos dilemas filosóficos do criador da bomba atômica, por si só, já é bastante político, mostrando as questões éticas e os interesses envolvendo a ciência e a ideologia.
Peacemaker
São questões complexas, que rendem horas de argumentação, além de conhecimento histórico e até científico. Mas coube ao Melhor Ator por Oppenheimer, a mais simples e dedicatória da temporada, sem ser chato, agressivo, pernóstico e/ou prolixo:
Um mundo que o pai da era atômica, vivido pelo ator irlandês no filme, nos deixou. Nesse mesmo mundo em que parece cataclísmico o que será deixado para as novas gerações, o diretor Christopher Nolan reconheceu o poder feminino.
Alô produção
Ao receber o Oscar 2024 de Melhor Diretor por Oppenheimer, Nolan agradeceu à companheira e produtora-executiva Emma Thomas, “pela produção de seus últimos quatro filmes e de todos os nossos filhos”. Bota produção nisso!
Christopher Nolan é conhecido por ser exigente e focado. “Foi essa a impressão que tive quando o entrevistei”, diz Juliana Resende, CCO da brpress, que também coproduziu o documentário Agora Eu Quero Gritar.
A jornalista conta sobre a entrevista e o clima do encontro com Nolan (e Cillian Murphy, de quebra) em 3 reels – sim três, pois há detalhes pitorescos, já que a entrevista aconteceu numa visita ao set do filme A Origem (Inception, 2010), em Londres, e foi publicada pela revista Época.
Desumanização
Jonathan Glazer foi duro e sisudo ao receber o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por Zona de Interesse (The Zone of Interest, 2023), sobre uma família vivendo ao lado do campo de concentração de Auschwitz como se nada estivesse acontecendo. Fez bem. Afinal, não dá para ser suave enquanto assistimos às atrocidades promovidas pelo governo de Israel em Gaza.
O cineasta britânico foi o único a protestar abertamente contra o que se passa em Gaza dentro do Dolby Theatre porque fora um grupo de manifestantes pedia o cessar fogo imediato.
“Eestamos aqui como pessoas que refutam que o seu judaísmo e o Holocausto sejam sequestrados por uma ocupação que levou muitas pessoas inocentes ao conflito, sejam os israelenses vítimas do 7 de outubro ou [os palestinos] do ataque em Gaza”, completou Glazer, deixando a plateia atonita.
Troca-se Oscar
Outra trupe papo-reto foi a do documentário 20 Dias em Mariupol (20 Dniv u Mariupoli, 2023), sobre o ataque e ocupação russa na cidade da Ucrânia, que deu ao pais seu primeiro Oscar – que o diretor Mstyslav Chernov trocaria pela paz.
O filme leva o espectador para dentro da zona de guerra pelas lentes de quatro fotojornalistas documentando o que acontece em Mariupol. Desnecessário dizer que cenas fortíssimas chocam e revoltam.
“Eu não posso mudar o passado. Mas, juntas, todas as pessoas talentosas do mundo podem garantir que a história seja registrada e que a verdade prevaleça. Que as pessoas de Mariupol não sejam esquecidas. O cinema cria memórias e a memória cria a história”, finalizou Chernov, ovacionado.
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